A Quem Importar
Estive a olhar a água que cai pelo ralo enquanto banhava-me.
Veio-me o pensamento de que,
Assim como aquela água que esvai-se
Vão-se os segundos vividos…
Os amores perdidos em cenas.
Apenas cenas presentes e que, um dia,
Esvaem-se como aquela água.
Sem lamento… Sem respeito… Sem saudades.
Saudades…
Apenas sente-se daquilo que nos é extremamente egoísta.
Daquilo que apenas a nós é bom…
Sem muito importar o contexto.
Nem a história…
Nem o cenário…
Muito menos o outro.
O que entregar mais em nome de apenas uma cena?
Uma cena. Tão sem importância depois de vivida.
Posteriormente, apenas contada…
Como algo que nunca sentiu-se sentimentos alguns.
Algumas cenas vividas tornam-se patéticas.
O tempo e a distância do vivido
Proporciona esta estranha metamorfose.
Outras são muito tristes…
Mas, geralmente,
Nada sentido ou traduzido por quem as narra.
Sim, pois de quem doeu e entregou-se à dor
Nada (nunca) vale a pena falar.
É mesmo assim…
De qualquer forma e de qualquer jeito.
Cenas contadas por uma boca leviana qualquer.
Sem som… Sem rima adequada…
Sem tom… Sem nada.
Então… Quando olho novamente para o ralo
Que escoa a água que lava o meu corpo…
Penso que não haverá quem quererá saber
Se a mesma água arrasta lágrimas,
Se tentei lavar a alma – embora impossível!...
Se tentei apagar uma história doída… Sem sucesso.
Ou se apenas quis limpar o resto cansado
Do meu dia de trabalho.
Será apenas "água escoando no ralo".
Será penas mais um tempo que não volta.
Será apenas mais uma cena…
Acompanhada apenas pelos fiéis e frios ponteiros
Do sempre indesejado relógio.
Em ritmo com a água que escoa,
Com tudo o que com ela segue...
E não volta. Nunca mais.
Karla Mello
Agosto/2010