ONDE ESTÁ O RESTO DE MIM...
ONDE ESTÁ O RESTO DE MIM*
São-me negras as noites, bem como os são as minhas vestes
É quando o sol arde sobre minha pele, mas tudo continua envolto em ébano
Deito-me e acordo em um quadro cuja única presença é a lua
Que cintila de maneira brilhante... Mas também chora
A lua eterna... As noites eternas
Os sorrisos que se escondem
As portas que se fecham
Os abismos que se abrem
As vozes que se calam
As certezas tão fulgazes
A paz tão esquecida
As mãos que me afagaram um dia... Açoitam-me
As palavras que acalantavam... Ferem-me
E uma espada, afiada pelo próprio demônio é encravada em minhas costas
Talvez porque o próprio Deus, não conseguiu me olhar de frente
As velas acesas e as palmas insuportáveis são testemunhas do meu ultimo ato
Minha ultima cena
Minha ultima estrofe
E até mesmo o mar me traiu
Até mesmo o vento me enganou
E até as rosas... Até as rosas me esconderam seu perfume
Hoje estou sem teto
Sem roupas
Sem pão
E no espelho, o infeliz companheiro no santuário de bêbados... vejo-me
Não me reconheço mais
As cicatrizes fendem o meu rosto de uma ponta a outra
Minhas pernas não se mechem mais
Minha razão, deixou de ter razão há tempos
E há tempos que não sinto o doce gosto da afeição
Da ternura
Do carinho
Minha mente se apodrece na mesma proporção de meus sonhos
Tolo que sou...
Quem foi que disse que eu teria o direito de sonhar...
Sérgio Ildefonso 14.11.2006
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* A frase que dá título a esse texto, fora pronunciada pelo então ator norte-americano Ronald Reagan no filme “Kings Row” de Sam Wood (que no Brasil recebeu o título de “Em cada coração um pecado”) de 1942”.