PESCADOR DE SONHOS

 

Tudo passou na hora que desbotou

Na hora que deixou de ser

Quando a maresia trouxe o outro lado da cor

O outro lado da dor

 

Tudo passou na hora que tinha que partir

Partir para o nevoeiro

Partir pra solidão do mar

Partir sem saber se iria voltar

 

Iria apenas partir

Não importava se iria ou não pescar

Importava sim

Poder se descobrir

 

Não importava se a dor que sentia era feita de flor

Ou se amargas lembranças iriam voltar

Só queria mesmo era partir para o mar

 

Só queria olhar para o horizonte e se entregar

Viver uma aventura para se esquecer de amar

Não importava se iria encontrar um marlim

Ou apenas sorrir para as estrelas ao invés de chorar

Ao invés de querer desistir de sonhar

 

Talvez fosse mesmo outro velho em busca do mar

Ou apenas um jovem velho que não soube amar

Que não soube pescar na beira da praia

Que nem mesmo saboreou uma raia

 

A lua secou

Secou sem lágrimas para desabrochar

Secou sem poder olhar os olhos que queria abraçar

Secou sem seus encantos poder mostrar

Sem ver o sol que queria amar

 

Tudo acabou

Acabou na hora que a flor sem orvalho suspirou

Na noite que seu mar secou

Nos olhos que ao olhar serenou

Na única noite que amou

 

Talvez fosse mesmo um velho jovem que estava partindo

Ou um jovem que viveu sua breve vida sorrindo

Mas que se esqueceu de tentar naufragar

De se agarrar a tênue vida que a solidão nos dá

Que se esqueceu de lembrar que para viver

Era preciso brincar

De sonhar

De viver para amar