Andarilho
As velhas e já murchas flores de primavera se despediram de mim.
As longas sombras de verão a causar vertigem vão sumindo aos poucos.
À minha frente, apenas as cadentes folhas desbotadas de outono.
Caminho pela estrada infindável rumo a lugar algum,
como se houvesse apenas um destino a me levar pelas mãos.
Desesperado, cruzo as montanhas e rompo meus cárceres
na fútil certeza de libertar meus sonhos cativos.
O calor é intenso. Meus pés desprotegidos se esfolam
ao passar pelas pedregosas ribanceiras do norte.
Caminho pelas vielas mal iluminadas
de onde exalam os miasmas de coisas invisíveis
sufocando os passantes da madrugada.
Caminho, e sei que por onde passo não poderei retornar.
O sentido é unico e atrás de mim toda a paisagem é queimada.
Tudo o que existe é o que está à minha frente
e as riquezas do passado pertencem aos fantasmas.