Da série de medos
Quando o sol se põe por detrás da casinha
faz dentro do peito saudade pequenina
e Sofia pensa em seu canto.
Pensa em mil coisas, Sofia pobrezinha!
E pensando ela sente de repente uma dorzinha
uma coisa assim bem profunda,
uma saudadezinha
de tudo quanto existe dentro da casinha.
O sol vai esconder-se de repente
chegando devagar a noite friazinha
e vai crescendo, e cresce grandinha
sobre os medos que Sofia sente.
E ela simplesmente não entende, coitadinha
que não é bicho papão, nem a morte
que ela sente.
Mas um medinho - coisa assim bem profunda - de ficar sozinha para sempre.
Encolhendo-se no canto
porque a noite a quer devorar
Sofia sente, miúda
o frio como se a fosse beijar.
Aflita, bem aflita, aflitazinha
com a mão no estômago
e esperança fraquinha
corre a pedir remédio à mamãezinha.
Mas a mamãezinha não pode ajudar
por mais coisa bem profunda que seja essa lamúria.
Porque ainda não criaram, Sofia pobrezinha,
remédio que cure angústia.
Sofia se perde entre todos os medos
e dorme a pedir coisa assim bem brandazinha:
que vá embora a angústia pela manhã
quando o sol nascer e alargar a casinha.
Sonhe, por enquanto sonhe, pobrezinha!
Agora é pequenina a dor que existe.
Quando grande for você, perceberá sozinha
que mesmo com o sol, o medo persiste.