Oh incertezas!!

Por me sentir pequeno, me afastei.

Por me sentir pouco me isolei.

Por não me sentir, fui quem fui.

Me apeguei as ilusões que tive e as senti

Como quem sente uma faca perfurando a pele,

Penetrando as entranhas,

Lacerando o ser já morto.

Tudo foi uma grande decepção.

Não encontrei nenhum apoio,

Não encontrei quem me acolhesse.

Durante tempos me empurrei com a barriga

Até chegar ao ponto

Onde eu deveria erguer a cabeça,

Olhar nos olhos da incerteza e dizer:

"Eu te superei"

"Você não me assusta mais"

"Você só me desperta pena".

Mas isso nunca aconteceu,

Não me tive em coragem,

Serenei a mim mesmo.

Fui engolido por frustrações

Fui preso em celas banhadas no puro néctar do fracasso.

Fui pisoteado pelos amigos

Que só me apontavam os meus erros,

Mas nunca me estenderam a mão em ajuda.

Fui aos poucos sendo corroído pelo ódio,

Fui me desprendendo do bem maior.

Abandonei a minha vida,

Me tornei um ser sujo,

Já nem me considerava gente.

Me tornei um inútil, um nada.

Me isolei em uma infinidade de "eus"

E me perdi neles.

Fui seu amigo fiel,

Sendo eles os meus.

Fui claro!

Fui solitário!

Fui lúcido!

Perdi os sonhos que um dia foram o meu tudo.

Vi meu escudo se partir,

Vi minha defesa caminhar ao buraco,

Vi meu refúgio cair sobre a minha cabeça.

Estava de uma vez por todas sumido

Estava rasgado e apagado assim como uma folha velha,

Já sem serventia.

Estava no auge do meu lamento,

Mergulhado no maior sofrimento, a insignificância.

Passei anos em desânimo,

Chorando por minhas próprias aspirações.

Me traí em meu mundo idealizado,

Onde eu tinha no meu silêncio o barulho que acalmava.

Onde eu tinha na tristeza a alegria que precisava.

Onde eu tinha no ódio o amor que acalentava.

Onde eu tinha em meu tudo um grande vazio.

Onde eu tinha em mim mesmo, o nada!

Ah incertezas! Por que me calaste?

Ah incerteza! Por que não me abandona?

Permita que os meus sentimentos venham a tona

E que eu possa enfim voar!

Permita que eu ande por caminhos escuros

Sem que eu os conheça em inteiro assustador!

Permita que eu tropece em pedras

Sem que eu reviva a dor da queda!

Permita que eu mergulhe em meus sonhos

Sem que eu me afogar na ilusão de um dia acordar!

Permita que eu chore

Sem que por isso eu seja julgado!

Saiba que tenho em ti, Oh incerteza!

A mais profunda barreira,

Tenho em ti um bloqueio que poderia não existir.

Quero ressuscitar,

Quero me refazer das cinzas que nem sequer me tornei.

Quero só queimar os meus medos,

Quero só queimar as minhas tristezas,

Quero voltar a ver a beleza em meus olhos de criança,

Que ontem se escondeu e hoje também.

Quero mim, Oh minha senhora,

Um dia renascer

E quem sabe gritar aos quatro cantos

"Que enfim voltei a viver"

Dsoli