CEGOS DE NÓS

De mim queres só o silêncio

as bocas amordaçadas

as masmorras sucessivas

mordaças de nossas bocas

os silêncios maltrapilhos

inúteis de fome e frio

por ruas que não sabemos.

De mim é só o que queres

as bocas vazias, bocas

sempre a servirem a nada

sempre a saberem a nada.

De mim é só o que queres.

De mim queres só as mordaças

bocas tapadas sentidos

sempre em fuga, que calamos

ao longo dos mundos de vidro

masmorras sem fim... masmorras...

a que só nos condenamos

países cegos de nós

de nós, amarras da mútua herança.

Zuleika dos Reis, na manhã de 26 de junho de 2010.