SER
Sou. E sendo, ando perdida.
És. E sendo, andas perdido.
Não sei por que tens esses olhos assim profundos
que embriagam como a verdade.
Que enlouquecem como a mentira.
Que enfurecem como vinho ordinário.
Não sei por que tens mãos lânguidas
e uma cara como os meus versos duros
- e uma alma impura.
Não sei por que és imperfeito e doce como o bem que está nos puros.
Por que és o avesso da verdade crua?
Por que não és a mentira nua?
Se de ti me avisto, torno-me rude
e me perco no mar revolto de teus olhos fundos.
Ah! Tu, se me visses, tornar-te-ias ameno
cabularias a vida austera
flutuarias no sopro da brisa
tocarias a face dos anjos.
... Mas tu andas louco, perdido por te encontrar como
eu louca ando,
perdida por me encontrar.