O frio da solidão
Hoje está frio.
E o frio que me domina tem sabor de solidão.
Eu não gosto do frio, porque ele me isola ainda mais.
O frio me incomoda, fere, machuca.
O frio é como Deus nos lembrando que antes de tudo somos apenas carne.
E eu que vivo tentando me aquecer.
Eu que busco tanto por calor.
Eu que prezo tanto um dia ensolarado, no frio me sinto perdido.
Minha alma se encasula dentro de mim, eu não consigo paz sentir.
Eu só sinto a dor do mais intenso e perverso frio.
Pois, que o frio que se abate sobre meu corpo, alcança também minha alma, que fica meio amuada, jogada num canto qualquer de minha essência.
Eu não gosto do frio: ele me lembra a todo momento o que realmente sou.
O frio já traz para mim a marca da solidão e da depressão.
Pois, que o frio me oprime, me desgasta, me arrasa.
O frio feroz me tira do eixo: ele arranca minhas forças, tira minha força, meu calor.
Com o frio dentro de mim, eu sou apenas restos de uma vida infeliz.
Eu sou carne tilitando deseperada em busca de calor.
Com o frio, meu mundo de pequeno fica ainda mais pequeno, e o que resta é apenas uma sombra daquela figura patética que sou.
Eu não gosto do frio, porque ele sempre me mostra o quanto sou frágil e gente como eu não pode ser fraca, se assim for, acaba por ser engolida pela máquina da exclusão.
Eu não gosto do frio, porque ele me mostra a todo momento, o quanto sou só.
O frio me faz ver que eu sou filho da solidão.
Estou isolado num vazio qualquer.
Eu estou aprisionado num mundo cheio de dor.
Sim, pois que o saber na maioria das vezes só nos faz sofrer.
Quanto mais se conhece desse mundo, quanto mais saber se adquire, mas prisioneiro se fica.
O saber é uma prisão, na medida que nos mostra o quão impotentes somos diante da injustiça dessa sociedade injusta, construída por homens vis e sem coração.
Pois, que o frio me mostra o quanto estou sozinho, perdido em meus pensamentos, em minha verdade.
Sim, pois que meus pensamentos, minha verdade e minha essência; me mostram o quanto sou diferente dessa gente desonesta que só deseja lucrar em cima daqueles que pouco ou nada tem.
E nesse caminho meio perdido e pela escuridão obscurecido, lá vou eu me arrastando, tentando uma luz quem sabe um dia encontar.
Vou me arrastando pela vida, numa luta feroz pela sobrevivência.
Vou buscando um sentido, uma razão, um motivo para tanta busca e tanta luta.
Vou encontrando apenas dor, tristeza e pavor.
E quanto mais caminho, mais me isolo do restante do mundo, e o que sobra?
O que sobra é apenas o frio: o frio da mais louca solidão.