Senhora "Sem Horas"

Lá na África era a Copa do Mundo,

No Brasil cada filho com hora marcada;

Todos tinham um lugar de chegada,

Mas, aquela senhora procurou “um mundo.”

Era o primeiro jogo Brasil X Coréia do Norte,

Dia 15 de junho de 2010, mas que falta de sorte.

Bem calada escrevia tal qual moribundo.

Já não corriam lágrimas em sua face,

Seu coração de mãe preparara um disfarce;

E lembrou quantas Copas do Mundo tivera,

Que com tanta euforia torcia com os filhos e sorria;

Tinha dupla função, era pai e mãe;

Sua voz era forte desde o Sul ao Norte,

Hoje sofre ausências, sua escrita é suporte.

Navalha cortando, peito retalhando,

No silêncio reflete e amarga a solidão;

Das doces lembranças, só desesperanças.

Uma dor rasante trazendo arrepio,

Dilacera a alma de um amar a fio,

Quantas madrugadas velando sua prole,

Pressente o incômodo, ninguém a acolhe.

Vai minha Senhora, no chorar tu amas,

Roga por teus filhos e a Deus não profanas,

Tua lágrima é sorriso a Deus não enganas,

Senhora da lida semente escolhida,

Respiras apenas por causa dos frutos,

Querendo teus galhos um dia arbusto,

Que Deus os mantenha a salvo e robustos.

Mas, hoje, em um canto da casa,

A pobre Senhora pegou pena e papel,

E o enredo choroso da alma, esboçou;

Não ouviu nem notou se o Brasil fez um Gol...

Sua TV nem ao menos ligou,

Com os fogos ela nem se importou,

Era tarde e um frio em seu peito ecoou.

Goretti Albuquerque