Os vidros da janela estão embaçados
Como as pupilas dos meus olhos
Embaçados pela poeira do tempo
Pela voz desencantada do vento
A madeira da janela está desgastada
Desgastada pelo abandono
Pelo tom cinzento que vem de dentro
Pela falta de flores no outono
A casa feita de madeira é só um ponto na estrada
Sem árvores no quintal para enfeitar
Para se pendurar num balanço
Ou sorrir um novo encanto
O pequeno portão está sempre aberto
Apenas para ver você passar
Esperando você entrar
Mas você passa e nem pensa em olhar
Então a sala continuará habitada
Decorada
Por paisagens em quadros perfilados
E empoeirados
Na parede de madeira
Da casa triste ainda abandonada
Largada
Desolada
Deixada ao alento
Esperando apenas o temporal chegar
Esperando o vento mais forte soprar
Para enfim desabar