Solidão de sábado
A pior de todas solidões é a solidão de sábado.
Sábado pede gente: gente que ama a gente.
E se a gente está longe de quem amamos, acaba sentindo uma dor: dor por estar ausente.
Ausente dos que pela gente sente amor.
Ausente daqueles que por estar longe da gente, também sentem dor.
A solidão de sábado dói fundo no peito e nos faz sentir como se tivessemos perdidos num mundo da mais fria escuridão.
Um mundo onde nem a beleza e a força da poesia pode nos alcançar e nem salvar.
A solidão de sábado é tristeza funda, que muito machuca, corta e dilacera a alma.
Solidão de sábado é veneno.
Veneno que consome nossos sonhos e nos faz sentir tão pequenos.
Eu, no sábado, me sinto assim: perdido no mundo, no vazio da vida.
É como se de repente uma jaula caisse sobre mim e me prendesse, e estando preso, eu fico sem ação, sem refúgio, sem poder sair, sem poder viver.
O sábado me faz sentir culpa, pois apesar de tanto querer viver, eu fico aqui parado, preso em meu abismo, em minha escuridão, em minhas trevas.
Pois, eis que, para mim, a pior solidão é a de sábado.
Pois, que solidão de sábado é tristeza funda, repleta de profundidade, que chega a tocar até os espaços mais nebulosos de minha alma atormentada e dilacerada.
No sábado, eu sou o que realmente sou: um zumbi chorando sangue, um anjo lamentando as asas quebradas.
No sábado, eu sou o que realmente sou: um mar de lágrimas salagadas, um poço de águas enlameadas, um coração despedaçado; juntando os pedaços de sua existência.
No sábado, eu sou ferida que não para de doer e arder.
No sábado, eu sou um pedinte implorando por vida, por amor.
No sábado, eu sou um caminhante, que não consegue caminhar.
No sábado, eu sou um sonhador, que não consegue sonhar.
Eu sou um menino que só sabe chorar.
No sábado, eu sou um extraterrestre de meu próprio mundo.
Eu sou apenas mais um habitante de um país frio e triste: um país chamado solidão.
Mas, o sábado passa e com ele vai a dor.
Mais vai também a esperança, esperança de que o próximo sábado possa ser mais feliz: feliz para mim, feliz para os que me são caros, feliz para todos aqueles que também sofrem nas noites frias e solitárias de sábado.