Solidão A solidão é animal astuto e faminto Não importa se te cobres com um manto Se estás sob os lençóis ou num convento Ela te encontra em qualquer momento Não importa se estás envolto pela multidão Se estás só, bem ou mal acompanhado Ela fará de ti meigo refém e servil escravo Ignorando teu grito ou teu triste lamento A solidão, fatalmente, vai te encontrar Numa esquina insana e distraída Num beco inconfundível e sem saída Ou no cálice de uma festa divertida Com seu faro de fera perspicaz Ela se esconde em penumbra e sombra E de nada adianta caminhar nas trevas Se até na luz ela sempre te encontra Sorrateira, ela te segue os passos Ouve tua voz, teu grito ou teu sussurro E te fareja de qualquer maneira No eco surdo de teu peito escuro Inútil fugir, lutar ou em vão debater-se A solidão, impávida, vence a batalha E impassível, ganha sempre todas as guerras Transformando-se em teu véu e em tua mortalha |