A LÁ PESSOA
NEM SEMPRE vejo as sombras
de meus pés quando ando.
Às vezes não percebo que tenho os pés
é como se não os tivesse.
O pensar é um vazio cheio de dor
e dói-me quando o calçado é menor
que meus pés.
Aperta como se fosse o último gole
Sacia como se pressentisse a última gota.
Ás vezes sinto as sombras
de meu terno a me perseguir.
Luto e livro-me da perplexa sombra
que não respeita ao menos meu medo.
Como meu medo fosse eterno
embora seja ele uno e consciente.
Não serei o que brada nos campos
ainda impuros, nem o que grita
esperando o eco das cavernas.
Serei apenas a caverna.
Serei apenas a sombra.
Estou em repouso
como o cinzeiro a minha frente.
O retrato que guardo de mim
está do avesso. Estou do avesso
como a camisa que cobre meu dorso
e ela não é maior que o mundo
pois nela cabe meus braços esguios
e naquele não cabe minha dor.
Estou em repouso.
Apenas uma mosca vadia
rebimba suas asas em meus ouvidos.
wagner marim