Fios na vidraça

Manhã sem manhã prevista,

Que a tarde seria mal vista,

Quando a pequena noite,

Feitiço do tempo jogasse seu manto,

Sem aqueles bordados,

Matizes que antes encantavam.

Tarde sem enfeites,

Sem névoa, sol amarelo

Nem Coca, nem sorvetes,

Só um gosto amargo,

Fumaça de cigarro,

Única neblina no espaço,

Molhada pela chuva

Transparente que escorreu.

Fim de encontros, de canetas,

Nas pautas em calçadas,

Nas paredes empedradas,

Nos muros empoeirados,

Nas esperas ansiosas,

Nas estrelas que bailavam,

Nas mãos que se negaram,

Enquanto as bocas buscavam palavras,

Os passos trocaram rumos.

Fim de festa, corpo cansado,

Na dança já acabada.

Fim de tarde, fim de dia,

Repica o sino, Ave-Maria,

Cai o manto,

Cai o pano,

Rola o pranto,

Nem mais um segundo,

Nenhuma razão de vida.