A VIDA FEZ RASGÃO

Trago rugas no rosto

Rugas duma vida inteira

Dia a dia me é proposto

Assumir mais uma mensageira.

Mensageira de dor e ausência

Põe meu pensamento em desalinho

Feita de lágrimas e insistência

Que a Vida pôs no meu caminho.

Insistência de permanecer aqui

Sem vida, como nuvem descendo ao chão

Faz tempo que a ternura escondi

Num recanto escondido do coração.

Minha palavra trago esfarrapada

E o vento já não me acaricia

Sinto minha carne pisada

Por ver passar mais um dia.

Carne pisada dos anos donde venho

Prestes a desfazer-se em pó

Nem a solidão por compaheira já tenho

Por me sentir tão só.

Companhia nenhuma, sufoco na escuridão

A Vida fez rasgão após rasgão

Há séculos se repete esta Primavera

E eu a mesma ave a esvoaçar

Talvez haja outra ainda à minha espera

E eu terei, na boca um pássaro para cantar.

Se o resto de esperança

de mim não abalar...

natalia nuno