Poça

Sempre pensei que a vida fosse um mistério.

Nunca tive a coragem de descobri-la,

De dar a cara ao primeiro tapa,

De corresponder a uma vontade insana

Que tanto me atormentava a cabeça.

O medo de me deparar com a frustração era tanto,

Que me impediu de ver a vida passar diante dos meus olhos

De ver meus sonhos partirem sem destino,

De ver a beleza a qual expunha o dia,

De ver a minha amada

Rumar um caminho diferente do meu.

Não fui feliz!

Ou estava sendo e não sabia.

A felicidade sempre me foi algo desconhecido.

Nunca corri atrás dela

E também não alimentei esperanças

De que um dia ela me encontrasse.

Me escondi embaixo de disfarces.

Me camuflei em verdades

Que me impediam de sair da página um,

Que me faziam andar, andar e andar

Até chegar ao ponto inicial da partida,

Que me prostraram ao pé de uma porta

Eternamente trancada.

Verdades que me fizeram em ilusão.

Vivi sem intensidade.

Vivi em mentiras subjugando-as verdade.

Vivi com a mesma verdade com que via a luz se acender.

Vivi com mesma verdade com que sorria a tristeza.

Vivi com a mesma verdade

Com que cantava, sonhava e amava.

Minha juventude se foi!

Esvaiu-se por entre as mãos, já enrugadas -

Saio à rua carregado em culpas.

Saio à rua trajado em derrotas.

Saio à rua enxovalhado em sofrimentos -

A cabeça baixa era uma marca.

Era um símbolo.

Me alcunharam “egoísta”.

Meus pés entrelaçavam-se.

Um arrastando o outro

E os dois arrastando um cadáver

Que ainda não havia se descoberto morto.

Os olhos apontavam ao chão.

Deparei-me com uma poça.

Parei a olhá-la,

Parei a admirá-la,

Parei a contemplá-la.

Não fiz mais nada,

Apenas parei!

Vi-me na poça como via ao espelho.

Olhei o reflexo, até então eu, e não me reconheci.

Uma lágrima caiu em tristeza.

A dor de saber de saber que eu era aquele que eu não queria ser!

O sol brilhou para mim.

Refletiu-se na poça, iluminando meu rosto.

Ergui a cabeça, como quem erguia a vida.

Olhei ao céu.

Azul, radiante ao sol.

Refletiu-se aos meus olhos, esperança!

Refletiu-se aos meus olhos, amizade!

Refletiu-se aos meus olhos, carinho!

Refletiu-me aos olhos, sonhos!

Refletiu-me aos olhos, a vida!

Tomei de volta o que havia dado ao tempo.

Revoguei a vida que a mim pertencia.

O tempo que me agrisalhou o cabelo

E que me envelheceu a pele.

Me presenteou em alegria e julgou-me em sabedoria.

O tempo que me resumiu em egoísta

Agora enaltece-me em justo.

Foi o tempo!

Foi a poça!

Dsoli

Dsoli
Enviado por Dsoli em 19/04/2010
Reeditado em 30/04/2010
Código do texto: T2206273
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.