Ar de lamentos
Eu a vi vestida de luto num vão escuro
Da sua face vertia silencioso pranto,
Refletindo seu infindável desencanto
A saudade é morte conhecida em plena vida...
Lembra cada carícia daquele amor impuro
Tão avassalador na hora da despedida,
O beijo da morte transformou seu amado
Em lembranças aspergidas pelos quatro ventos
Seus olhos são como milhares de tormentos
Envolta num ar de pesar apenas espera
O sutil som da morte vindo pelo prado
Agora é só uma flor murcha na primavera...
O céu é cinzas, o amor é remorso, puro ódio...
A pele é tal qual a bruma das manhãs de inverno
Fora é mansa, mas dentro é fervoroso inferno
Logo a morte parece ter um tom encantador
Já a vida se tornou imenso deserto vazio
O futuro se tornou pesadelo aterrador
O desespero é negra mortalha sobre o rosto
Seus sonhos são negros pássaros já sem asas
Agonizam num inferno de lamentos e brasas
Como uma chuva que lava, procela que arrasa
As chagas são curadas, adoçando o desgosto
Pouco a pouco se dissipando a negra fumaça...