A FORÇA DE UM LAÇO
Escrevo-te com minha triste pena
Sob o quarto escuro de minh’alma
As dores do meu pobre coração
Tu fostes há tanto minha beleza
Minha cantiga doce e serena
Sinto tua falta, tua luz, tua calma
Julgado fui e cumpro a dura pena da solidão
Lançado num calabouço frio de tristeza
Lembro-me, inerte, dos dias folgados
Destes que o sol nunca se esconde
Dias claros de infindáveis louvores
Que só os têm os verdadeiros amores
Daqueles em que o tempo pára,
não se sabe onde
Que regam os mais enlevados corações,
Carrego a sorte de ter um dia te conhecido
E a desventura de tão precocemente, perdido
Se desfrutei da plenitude do amor
Hoje me seguem sombras de pavor
Meu peito não é mais forte, nem fraco
Declino passivo ante a força de um laço
Herdei as cicatrizes que ao pó me levarão
Como me livraria desta tristeza de então?
Nem sei se posso considerar-me ainda, vivo
Se não posso sentir, sequer,
Dentro deste peito triste,
um miserável coração.