ORIGAMIS


Já que não restam mais poemas
Silentes, a se revelar...
Se o silêncio fez morada certa
no oculto endereço do meu sonhar...

Quando o que desejo, é pura sombra
Delineada pelo sol de outono
Sombra inerte, sequer me segue
Na vacilação dos passos e dos enganos.

Se todas as palavras fossem escritas
Na poesia que não ousei criar
Que aflora e me antecede
Muito antes do sol raiar...

E se o verso desse artista rouba
De mim, o olhar da platéia
Que me sonega o relâmpago do olhar...

Resta-me a monotonia da boa alma
O gesto servil de quem quer existir
Porque a morte em vida não é calma
Nem consola o grito que quer ferir.

Se o tempo me driblou, rumo ao gol
E o grito da multidão é sonora vaia
Não fico, não peço, não vou
Testemunhar a derrota do que sou.

E assim transmudo-me em pedra´
Sólida, áspera, sem contemplação
Gasto os dias a pensar...

Vou enrijecendo, velho diamante
E em resposta ao desatino das gentes
Placidamente imagino
Origamis
No imponderável vazio do ar.