CATEDRAIS
Catedral de aço em que tranquei meu peito
Não sobrevive a força dos ventos demônios
Que abrasam minha alma com sonhos desfeitos
Revelando células, feras, feromônios.
Catedral de agulhas desencadeadas felpas
De puro e ardente veneno crepúsculo
Que me consome em tochas sanguíneas crespas
Tornado-me menos que vulgar molusco
Catedral de areia desfeita ao sabor do medo
Que desmorona meu ser recluso e tenso
Tornando-me apenas centro de um enredo
De um sofrer vil, carrasco, imenso.
Catedral de barro frágil moldada a ferro
Envolta em chuva de ácidos escaldantes.
Me lança ao topo do vulcão desterro
Refugio de feras e zumbis errantes.
Catedral de vidro translúcido e frio
Reflete o nada no vazio fugaz
Do nada herdo apenas o calafrio
De buscar na luz, anseios de paz.
Catedral de águas revoltas, marés.
Transbordam meus anseios rumo aos infinitos.
Transformando a incerteza do febril revés
Em sussurros que são desalentados gritos.
Catedral do nada, vazia como eu vazio.
Despojado de sonhos, acéfalo, hermético.
Como espada, lâmina sem fio.
Escorrendo a vida, para o fim patético.
Catedral trancada sem portas, viseiras.
Sobre leitos de puro e macio veludo
Catedral ruínas de pasmaceiras.
Negro prenúncio para o fim de tudo.