NOITE ADENTRO

Venho mourejando, cansada

É chegada a noite, o dia é já perdido

Nunca me dou por achada

Ninguém me ouve um gemido.

O ruído deste silêncio sempre igual

Nesta noite, mais uma sem sono

Deixo-me na poesia envolver,

Escrevo bem ou mal,

Deixo a saudade correr

E na noite me abandono.

Estou aqui debaixo de telha

Penso nos que dormem na rua

Ainda que fosse casa velha?!

A que pudessem chamar de sua!?

Não me poupei a canseiras

Também não tive outra saída!

As noites são minhas companheiras

E a vida passa, na noite passa a vida.

Silêncio é quase romper da aurora

Assim, penso nos outros também

Nos doentes, nos que sofrem nesta hora

E nos olhos tristes das crianças sem ninguém.

E eu aqui escrevendo e pensando

Se o Mundo estivesse bem?!

Penso em tudo e o dia entrando

Penso na minha alma triste também.

Mas a pensar nada resolvo

Que a Vida é tamanho embaraço

É como gigante polvo

E eu pensando nada faço.

E assim fica meu olhar vencido

Na espera doutro dia de existência

Cansada de não haver dormido

Dorida de tanta violência.

natalia nuno