separação

A vida é uma grande separação

Nascemos e nos separamos do útero materno

Crescemos e nos separamos de nossa infância

da inocência

Envelhecemos e nos separamos da juventude

E da esperança instantânea de que amanhã será tudo

diferente

Acordamos e nos separamos da cama,

Do abrigo tépido dos sonhos

Prosseguimos em dispersão

Vivemos nos separando

dos pais, dos avós,

dos filhos, dos maridos,

dos amigos, dos amantes

das ilusões perdidas,

das mágoas ainda úmidas

de lágrimas...

Vivemos nos separando das

reticências poéticas

A cada dia nos separamos da vida

E rumamos para o enigmático fim

A morte ainda assim é

separação

Separamos do planeta.

Da existência,

Do corpo físico,

Dos aromas das estações do ano...

O outono é a separação da primavera

O inverno é a separação do verão...

Entre ícones paradoxais

Vivemos incessantemente nos separamos

esmigalhando sentimentos

Multifacetados como átomos

A se dispersar

A compor de finitude a hora seguinte.

Vivemos nos separando

Por nossas opções, liberdades

e dúvidas

Ressentidas e ditadas pela

Genética e história.

O ritual da separação

Continua sagrado

Na circuncisão dos sexos,

Na ruptura dos laços

Na quebra dos cristais.

No desandar da simbiose.

Tudo é separação.

Que rima com cisão,

que rima com solidão

mas não rima com viver.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 06/03/2010
Código do texto: T2122860
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