separação
A vida é uma grande separação
Nascemos e nos separamos do útero materno
Crescemos e nos separamos de nossa infância
da inocência
Envelhecemos e nos separamos da juventude
E da esperança instantânea de que amanhã será tudo
diferente
Acordamos e nos separamos da cama,
Do abrigo tépido dos sonhos
Prosseguimos em dispersão
Vivemos nos separando
dos pais, dos avós,
dos filhos, dos maridos,
dos amigos, dos amantes
das ilusões perdidas,
das mágoas ainda úmidas
de lágrimas...
Vivemos nos separando das
reticências poéticas
A cada dia nos separamos da vida
E rumamos para o enigmático fim
A morte ainda assim é
separação
Separamos do planeta.
Da existência,
Do corpo físico,
Dos aromas das estações do ano...
O outono é a separação da primavera
O inverno é a separação do verão...
Entre ícones paradoxais
Vivemos incessantemente nos separamos
esmigalhando sentimentos
Multifacetados como átomos
A se dispersar
A compor de finitude a hora seguinte.
Vivemos nos separando
Por nossas opções, liberdades
e dúvidas
Ressentidas e ditadas pela
Genética e história.
O ritual da separação
Continua sagrado
Na circuncisão dos sexos,
Na ruptura dos laços
Na quebra dos cristais.
No desandar da simbiose.
Tudo é separação.
Que rima com cisão,
que rima com solidão
mas não rima com viver.