No Pier da Solidão

No Pier da Solidão
Jorge Linhaça

A chuva fina envolve meu corpo
O guarda chuva é só um enfeite
Contempl'o mar, assim absorto
Numa mistura de dor e deleite

Cá neste pier, sou vivo, sou morto
Sou a oliva e sou o azeite
Barco a deriva buscando um porto
Sou coalhada, fervida do leite

Foram-s'os anos, ficaram os dias
Qu'inda me restam na beira do cais
Já se rasgaram minhas fantasias

Todas puidas de cem carnavais
Tempo fugaz de minhas alegrias
Qual as conchinhas qu'o mar hoje traz.

Arandu, 2 de março de 2010