fevereiro
Você me conta sobre a luz
Pois meus olhos são seus olhos agora
Você me conta sobre o verão lá fora
O imenso deserto cáustico
pegando fogo,
Queimando tudo por dentro
e por fora.
Você me conta sobre a manhã que não vivi
Sobre os frutos que não vi amadurecer
Sobre as folhas que caíram nos desvãos do
pensamento
Lá fora a nuvem atropela meus suspiros
Corrompe meus sentidos
E, por um milésimo segundo
Penso ser livre e poder voar.
Você me conta sobre fatos distantes
Sobre o fim dos tempos,
Sobre aquecimento global
E o coração da humanidade conhecendo a glaciação
Gradual das indiferenças,
Das guerras, dos atentados sem bilhete
Das mortes explicáveis pelo descaso.
Você me traz notícias
Inverossímeis
que riscam a ficção na areia da praia
bordam passos em caminho fugidio.
Tropeçam nas pedras sagradas da razão.
No alto da onda,
a natureza se aborta em forma
de vaga...
E na espuma das ondas mortas
Murmura galanteios às estrelas.
São tão vagas essas esperas
As portas deixadas entreabertas
Palavras pronunciadas sem fé.
São tão vagas as rimas ocasionais...
Que teimam
Em embriagar de lirismo a tarde que morre.
Consolo há no risco do horizonte
A sangrar a beleza em tons de laranja e vermelho...
E na cripta das vaidades
O silêncio interrompe a estética
que gagueja.
Despida das fantasias de fevereiro.