fevereiro

Você me conta sobre a luz

Pois meus olhos são seus olhos agora

Você me conta sobre o verão lá fora

O imenso deserto cáustico

pegando fogo,

Queimando tudo por dentro

e por fora.

Você me conta sobre a manhã que não vivi

Sobre os frutos que não vi amadurecer

Sobre as folhas que caíram nos desvãos do

pensamento

Lá fora a nuvem atropela meus suspiros

Corrompe meus sentidos

E, por um milésimo segundo

Penso ser livre e poder voar.

Você me conta sobre fatos distantes

Sobre o fim dos tempos,

Sobre aquecimento global

E o coração da humanidade conhecendo a glaciação

Gradual das indiferenças,

Das guerras, dos atentados sem bilhete

Das mortes explicáveis pelo descaso.

Você me traz notícias

Inverossímeis

que riscam a ficção na areia da praia

bordam passos em caminho fugidio.

Tropeçam nas pedras sagradas da razão.

No alto da onda,

a natureza se aborta em forma

de vaga...

E na espuma das ondas mortas

Murmura galanteios às estrelas.

São tão vagas essas esperas

As portas deixadas entreabertas

Palavras pronunciadas sem fé.

São tão vagas as rimas ocasionais...

Que teimam

Em embriagar de lirismo a tarde que morre.

Consolo há no risco do horizonte

A sangrar a beleza em tons de laranja e vermelho...

E na cripta das vaidades

O silêncio interrompe a estética

que gagueja.

Despida das fantasias de fevereiro.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 24/02/2010
Código do texto: T2105652
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