Antiquário dos Ingratos
Fizeram-te uma criança nessa altura dos anos.
Jogaram-te para a adoção de velhas quinquilharias.
Agora o que leva nessa bagagem antiga e cheia de traças? – o reconhecimento por ter sido tão passiva?
Teus filhos quebraram os pratos, maldisseram tua comida – trocaram-lhe por fast-foods e sucos gaseificados.
Teu marido sumido compartilha a velhice com qualquer uma que tenha menos linhas na face.
Lembra de quando batias no peito orgulhosa da postura dedicada? – mal sabia do buraco que um dia a jogariam.
Dona Neuza (a solteira), mal falada na vila, hoje canta pelo mundo e coleciona fotografias.
E a senhora onde andava, além das fronteiras da cozinha?
Mas agora é tarde e o caminho limitado. Ao redor somente muros e o rancor da ingratidão.
Nunca foste Pagu e nem Maria Bonita, então faça desde ódio somente uma lição: não existe liberdade encontrada em doutrinas. Você nunca foi costela, nem a sombra de alguém.
Desculpe-me pela realidade eu também senti a dor: fui largada pelos filhos e não tenho um vintém.
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