SEM NUVENS, SEM CÉU
Quando de ti ganhei nuvens, ousado,
achando ser merecedor, desejei o céu,
mas sonhei alto demais; então,
de tanto querer além do teu ofertar
extrapolando os limites do possível,
vi-me sozinho e vazio de sonhos:
nem bem as nuvens nem mal o céu,
fiquei sem teu alvo sorriso
e me foi tirado o sentido da quimera.
Quisera eu ter-me contentado
em possuir nuvens, tão perto do céu
já estava a ponto de quase tocá-lo,
contudo o coração humano
anseia sempre por mais, por vezes
muito mais do que pode alcançar;
destarte vê desmoronar seu castelo
construído em débil alicerce, e,
súbito, recebe do destino a sombria
dádiva da solidão.
Nesse toldado ápice, sem nuvens,
ainda mais longe do céu, bastar-me-iam
aquelas, pobre menino que sou, sim
eu me alegraria agora tê-las nas mãos,
fragmentos de ti, dando-me por feliz
por esse mínimo que se torna máximo
ao refletir o sentimento que te
vai na alma, outrora devotado a mim.
Eu trocaria esta solidão melancólica
por essas poucas nuvens que tu,
no entanto, já não me proporcionas.