Mãos vazias
Queria dar-lhe um regalo
Que expressasse o meu apreço,
Julgando que um adereço,
Talhado em raro lavor
Fosse um tributo ao esplendor
De seu rosto pequenino;
Confesso, foi desatino,
Ou talvez ingenuidade,
Pois as joias de verdade
São seus olhos turmalinos.
Pensei em dar-lhe uma estrela
Com seu brilho fulgurante,
E mesmo estando distante
Esforços não mediria,
E num pégaso a traria
Mais veloz que o próprio vento;
Ó delírios do momento,
Tão comuns entre os mortais:
Pois seus olhos luzem mais
Que estrelas no firmamento.
Pensei em dar-lhe um bouquê
Com lindas rosas vermelhas,
Ardentes como centelhas
Desde amor que lhe devoto;
Porém, de imediato, noto
Que as rosas perdem o vigor,
O rubro cede ao palor
Neste gesto feito a esmo,
Pois é uma imprudência, mesmo
Dar flores a outra flor.
Por fim, trago as mãos vazias
Sem saber o que fazer,
Restando-me oferecer
Meu inquieto coração;
Impulsos de uma paixão,
Como contê-los não sei!,
E dá-lo não poderei
Pois lembro, perfeitamente,
Que ao calor de um beijo ardente
Meu coração lhe dooei.
Jorge Moraes - Livro: Quando os sonhos ganham asas