Tudo
Imaginam que sou imune,
não importa para onde rume.
Mas abaixo do cartaz de "não fume"
pressinto teu perfume
e reviro meu ciúme.
Como noite sem vagalume,
choro sem queixume.
A você me dei
como nunca fizera,
pois só tu, agora sei,
é meu Tempo e minha Era.
Tu fostes o afeto derradeiro
e o destino desse meu paradeiro.
Por você eu soube do amor verdadeiro
e do afeto nesse doce cativeiro.
Teu sorriso preencheu minha vida,
adiando a hora da partida.
Se outra fonte secou,
contigo outro tempo chegou.
E mesmo que digam: não!
Insistirei no tema,
pois é inútil brigar com a pena
que sempre te descreve como Poema.
Por tudo isso, só a ti eu leio,
és meu fim e meu meio.
Livro raro. Raro livro,
minha paixão e meu motivo.
Pelos caminhos que já andei,
pelas cruzes que já carreguei
e pelas sementes que plantei,
hoje sei:
tú me fizestes rei.
Mas a beleza do instante foi frágil,
e a voracidade da feiúra foi ágil.
Mas o que fiz? Por que aquela incúria,
por que o pavor daquela fúria?
Um silêncio me barra.
A dor, em tudo esbarra.
Ainda carrego a aliança,
ainda carrego a esperança
que tu saias das fotografias
e de novo habites os meus dias.
Agora que entardeci,
resta-me a impressão
do que já padeci
e daquilo de que já ri.
Dos desejos que senti,
de tua beleza que eu vi
e de tua voz que ouvi.
E do amor que por ti senti.
Tu me destes a ventura havida.
Dela, guardo o possivel
para esquecer o horrível
pesadelo de tua ida.
Agora vago entre o tédio da rotina,
o opaco na retina
e o vicio da nicotina.
Esperando pela mão assassina,
ou pelo convite da estrecnina;
ou a fuga pela heroína.
Inútil tentar Macunaíma,
pois estão mortos os heróis.
Na noite ti perdi, entre outros faróis.