CARTAS

Dentre as cartas que escrevo

Está o mundo no roer dos dentes

Está o universo na roda da vida

Com todo seu esplendor demorado,

Adstrito, limitado e regressor

Dentre as cartas que escrevo

Está a saudade aflita

Que busca os erros celestiais

Que acolhe milhares de aurora

Dentre as cartas que escrevo

Estão as bonecas e as meninas

Está luminoso buquê

Está o perfume da sílaba

E o sabiá corista

Dentre as cartas que escrevo

Está o beija-flor,

as sentenças de pelúcia

e os pássaros que usam minhas asas

Dentre as cartas que escrevo

Estão as estações impertubáveis

As cores e os lilases,

os desenhos e os milagres

Dentre as cartas que escrevo

Estão aquelas puras e intocadas

Que se sorvessem por completo

Não chegariam ao seu endereço

Mas eis que esta carta-epístola

aqui agora escrita e registrada

Que tem a profundeza da minha alma

Carente da sua ausência

Escondida e beijada para ti

Nenhuma é tão bela como esta

Silvania Mendonça
Enviado por Silvania Mendonça em 08/01/2010
Reeditado em 08/01/2010
Código do texto: T2018902
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