CARTAS
Dentre as cartas que escrevo
Está o mundo no roer dos dentes
Está o universo na roda da vida
Com todo seu esplendor demorado,
Adstrito, limitado e regressor
Dentre as cartas que escrevo
Está a saudade aflita
Que busca os erros celestiais
Que acolhe milhares de aurora
Dentre as cartas que escrevo
Estão as bonecas e as meninas
Está luminoso buquê
Está o perfume da sílaba
E o sabiá corista
Dentre as cartas que escrevo
Está o beija-flor,
as sentenças de pelúcia
e os pássaros que usam minhas asas
Dentre as cartas que escrevo
Estão as estações impertubáveis
As cores e os lilases,
os desenhos e os milagres
Dentre as cartas que escrevo
Estão aquelas puras e intocadas
Que se sorvessem por completo
Não chegariam ao seu endereço
Mas eis que esta carta-epístola
aqui agora escrita e registrada
Que tem a profundeza da minha alma
Carente da sua ausência
Escondida e beijada para ti
Nenhuma é tão bela como esta