O Banquete da Solidão


Na ceia da vida,
cada um com o seu copo de melancolia,
cada um com o seu sorriso de gala,
pois que sorrir é enganar as feições do rosto
na máscara de cada um, no olhar furtivo.
No oculto que de tão vaidoso quer aparecer.
Um segredo desvendado
para, depois, se cobrir com cinzas,
num brindar de silêncio,
pois o movimento a tudo tomou.
Tudo ocupa, tudo se faz cheio,
empanturrados de sapos engolidos,
no banquete do cotidiano,
os corpos blindados pela razão,
os corações perdidos do peito,
pois que toda sutileza, todo requinte,
tem lá seu ar de mistério inútil.
De perversa futilidade,
das presas e garras cheias de distinções,
tolo é o engano da sensibilidade
que se supõe capaz de vencer a força.
Calado.
Mudo.
Com a boca fechada.
Um cadeado com a chave perdida.
Num secreto segredo sem fim.
Na zombaria de ser bom ou mau.
No discreto prazer da soberba do sarcasmo.
No requintado tempero da ironia,
os risos não tiveram graça,
os sorrisos não tiveram dentes.
E boca?
A boca não está lá.
Nada havia no rosto,
ninguém existia.
Nada havia,
senão, apenas, o ínfimo,
na sua humilhação de ser tão pequeno
.

20/12/2006
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 08/01/2010
Reeditado em 03/05/2020
Código do texto: T2018478
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