Irmãos siameses
Irmãos siameses
Minha alma em conflito, escavando profundos precipícios, revela equações incompletas, questionamentos sem fim;
Duas metades antagônicas se afastando: Realidade e Ilusão, irmãos siameses engalfinhados em luta dentro de mim.
Penso em consolar a minha alma, resgatá-la de sua aflição, vasculhando argumentos nos meus mais longínquos confins.
A bem da verdade, gostaria muito de conciliar minhas inimigas metades - não ser tão aflito, espírito tão dilacerado assim.
O nômade se esbate, impaciente: fustigam o gregário medroso, forças díspares, complementares – partes da mesma proposição.
No amor: sol brilhante, radioso. Na amargura: a face escura da Lua refletida em meu rosto, escâneres de minha introspecção.
Neste meu labirinto horroroso não decifro a senha de entrada, na saída, uma esfinge postada a impedir qualquer prospecção.
O meu choro é rio subterrâneo, Realidade a ser enfrentada; meus amores? Guardo-os em mensagens cifradas – companheiros de minha Ilusão.
Dualidade espectral, fenomênica, felicidade instantânea, global. Êxtase! Insatisfação exorcizada – segundos distantes do mal.
É o Inferno em Céu transformado, cometa em viagem abissal - etéreo e corpóreo unidos num impossível conúbio carnal.
E a vida retoma seu curso, elipses assimiladas, estranho eclipse boreal, cérebro em paz momentânea – trégua no império do Real.
De sonhos enfeito minha rota, imigrante das três dimensões, um ser tão exótico, confuso; visão distorcida, caótica - sou imagem perfeita do Caos.
Quando começo a escrever fico apavorado, como se estivesse a invadir o Sanctus Sanctorum, arca sagrada em que estão acondicionadas todas as poesias que já se fez antes de mim. Então, inspiro profundamente e saio de dentro de meu invólucro carnal, deixando que minha alma assuma o comando, pois ela se entende bem melhor com as coisas que são sagradas.
Cidade dos Sonhos, tarde/noite do primeiro Domingo de Janeiro de 2010
João Bosco