Mentira
Eu em minha singela angústia
Artista que pinta solitário
O quadro de um homem
Cercado por figurantes insensíveis
Diretor teatral
De uma peça dramática
Mascarada por uma comédia
Obscuramente irreal
Na qual o ator principal
Num mal estar permanente
Só e inseguro constantemente
Passa imagem de um cara normal
Ator maquilado de simpatia e
Vestido de amizade
Que chora em silêncio
Pra não ouvir as próprias lágrimas
Protagonista
Articulador de tudo
Que solta um grito mudo
Desesperado por esperar algo que não sabe o que
A espera de um segundo ato
Ainda não escrito
Esperando que alguém
Um dia ouça esse grito
Tentando pregar adpisia de amor
Um cara que joga pelo empate
E sempre acaba derrotado
Passa na peça esse ator
E quando as cortinas se fecham
Espera outra sessão do drama inusitado
Atropelando os intervalos
Sem sentimentos contracenados
O ator sou eu
Meu palco: a vida
Ator obscurecido
Por incomensuráveis máscaras
Talvez meu teatro pessoal seja fechado
Por questões de segurança
Pois não vê-se saída,
Nem a de emergência
E quando as cortinas se fecharem
Alguns talvez esperem pelo segundo ato
E se lembrarão para se esquecerem rapidamente
Que este não foi escrito
E como em todo bom drama
O ator principal
Domesticado por instinto animal
Despede-se sem dar tchau