PRANTO TORTO DE NOITE SEM GLÓRIA
 
Meu poema nasceu na calada da noite
Enquanto eu sangrava pelas paredes frias
Em busca da porta que estava entreaberta
Deixando a luz tênue da lua que invadia o quarto
 
Meu poema é um açoite qualquer
Que vai marcando meu corpo com as chagas
Que incendeiam meu coração nos pesadelos
Noturnos que chegam entre imagens distorcidas
 
Meu poema é um pranto esquisito
Que não escolhe palavras que enfeitarão
As linhas brancas do caderno de minha história
 
Meu poema não é a glória de beleza
Não foi feito para se por na mesa como enfeite
Nasceu para traduzir minha alma em todos os verbos
 
Meu poema nasceu na noite sem eclipse
Quando o sol abandonou a lua sem sorriso
Meu poema não é meu paraíso
 
É um monte de sonhos e desejos que nascem na carne
E brotam na nascente que arrancará minhas entranhas
Sem ter onde se deitar para descansar depois de morto
 
Meu poema é minha solução de fuga
Do mundo que não aceito e não escrevo para amar
Meu poema é o soluço que nasceu na minha noite sem glória
 
Meu poema é a chaga do meu corpo
É minha cicatriz que findará na minha partida
Meu poema é vida sem vida