FIM DE FESTA
A borboleta na parede,
além de mim,
é a única
existência de vida.
A música dolente
em bemol sustenido
diz paciente
ao meu ouvido
haver alguém
parando a orquestra
e que a festa
já acabou.
Só, eu e o depois,
num compasso
dois a dois
mentimos que a festa
continua
porque a sala nua,
pede uma dança.
Finjo então
dançar um bolero
em dois e um
e tolero:
Sou eu, só, dançando,
e ao meu redor
a borboleta
que ora voa.
Peço a ela
que se transforme (em ti)
e dance comigo.
Então danço
em suas asas;
voando no imaginário
do infinito
fossem elas
teus braços.
Só então percebo
que é uma borboleta
procurando saída.
Sempre te vejo borboleta
adejando flores em cio
e quando aromas aspiras
disfarças perdida
em paredes de festas.
Na minha parede,
após a festa,
vens pela fresta
espiar minha valsa
no findo acorde
e te alas, porque voar
é tua fuga.
Então te transformas
e borboleta vagueias,
nas noites renegas
nas manhãs te cegas
depois passeias.
No aflar das asas
alas um bolero;
sabes o que quero
e porque só, danço.
Se tuas asas alcanço,
não anseio voares
mas flutuo lugares
onde buscar-te
não canso.
Sabes que as flores
fecham-se nas madrugadas,
então por que vagas
no meu salão deserto?
Não há uma pétala
se abrindo;
só eu insistindo
que voe em meus braços
e adeje meu cio.
Tão arredia
apenas assistes
da parede fria
meu mundo vazio
em mais um
fim de festa.