MADRUGADA

MADRUGADA

No meio da madrugada,

Embriagada solidão me faz refém.

Cada quarto da casa não me casa em meu passado:

Calado me subtraio na soma de todos as pessoas

Que um dia fiz deixar e me deixar alhures.

Patrulhes em mim e direi das marcas de amor perdidas

entre tantas encontradas no limbo da imaginação.

Perigosa missão de leite longe da nata,

de orgia sem magnata luar,

de tinta sem ter pintor

de boca sem ter amor

de pés sem alpargatas...

No meio da madrugada,

madrigais não cantam mais...

Foram-se os anos,

afagos noturnais,

antigas canções que acalentavam meu ais, foram-se.

Ficaram fuxico, intrigas, mexerico,

também Maria, Juliana, Josefa e até Chico nos

mais intrigantes plurais, ficaram...

Noite que o açoite acelera,

padres que o ofício da missa venera,

orai por mim

olhai por mim

chorai por ti.

Choro-me no meio da treva entrecortada de meia luz:

meias pessoas

meias mulheres

meios homens.

Ilusões inteiras!

Decepções inteiras!

Olheiras inteiras das lágrimas choradas

no cume de mim

no túnel de mim

na terna madrugada.