Páginas da solidão

Por demais ao cântaro, posso ver-te.

Por detrás da cortina hás de me entender

Falante, soberbo, erguido vou

Cortar às vezes que me pus a escrever-te

Dizendo-te tanto, mas, sem nada dizer.

E em cada fio, traço de linha escrito,

A prece soada em verso medita

Ao berço amado de onde vinhas,

Transeunte incrédula entre as linhas

Burilava em lampejos a alma vazia.

Por demais os encontros que tantos foram,

A ausência salpica inveja dia a dia

Com amargos temperos que a boca recusa,

Fatia grotesca pra alma reclusa

Ao exílio esquecido adormece cansada.

Que vês então se não o nada

Estendido na esteira curtida de pedras?

Que fazes então se não te medras,

No escuro recanto de nossas ausências?

Ah, partido sonho quebrado de pejo,

Nem na boca ficou aquele beijo

De nossas volúpias, antigas delinqüências.