Vazio

Um dia se vai,

É mais outro que vem,

São folguedos em semanas,

Nos meses que criam o ano.

Ontem foi ontem,

Hoje é hoje para os mistérios do amanhã.

E neste cigarro que apago,

Do beijo há o gosto,

Da bebida o trago,

Na mesma boca que recua,

No abraço vazio,

No ar poluído que respiro.

O sono se vem, se vai,

Sem que eu possa alcançá-lo,

No berço da noite fica o embalo,

Balanço entre papéis,

Tinto o branco, vestindo de poesia,

Despindo mais uma noite

Que há de morrer pra mais um dia.

Sou perdulário, espúrio, desconexo,

Transeunte de algum complexo,

Tentando expor meu vazio Entre as estranhas luminárias,

Solenes focos de saudade

Pelas festas de carinho refugiadas,

Ocultas no imenso amor

Vindo com o dia, dormindo com a noite,

Sem ir embora, sem segredos, nem mistérios.