Pacto com o Silêncio
 
Quantas foram as palavras não ditas?
Palavras que morreram no calar da boca ,
que definharam no medo de ferir,
e acabaram como escombros de letras.
 
E fala, fala-se, falam-se, e nada diz,
e nada dizem, pois que ocultam-se.
E então ouvir, pacientemente escutar,
até que, cansado, apenas finja ouvir.
 
E o dito fica pelo não dito.
E se vale tão pouco dizer.
Se boca e ouvidos são inúteis,
por que insistir em falar?
 
Lábios destinados a ficarem selados,
impregnados de um silêncio doentio,
num mortificar-se em prestações,
até duvidar do desejo de viver.
 
Mundo de torres de Babel.
Ninguém quer ouvir ninguém,
todos falam ao mesmo tempo,
num caos repleto de ansiedade.
 
Algo foge às mãos.
Obrigações e deveres,
as normas e prescrições,
os remédios e os venenos.
 
Tem que fazer isto,
tem que fazer aquilo.
Na mecanicidade das horas,
apenas fazer e ponto.
 
Horas exatas, sorrisos amarelos,
jogos de diplomacia.
Na hipocrisia das falsas confissões,
os afetos arrematados em leilões.
 
Mentira, engano e tola sedução.
A sobrevivência depende da conveniência.
Melhor não enfrentar os espelhos,
melhor fugir dos olhares inquisitivos.
 
Sentar-se à beira do caminho,
e de repente ver que o tempo passou,
já foi, já era, está predestinado.
Então falta apenas ouvir-se.
 

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 21/11/2009
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