Livre dos Medos
 
Noite escura que nunca termina,
mas que finge-se de estrelada.
O desfiar de um rosário de horas,
os pensamentos inacabados.
As emoções canhestras
ante as frustrações da afetividade.
Em meio à sólida materialidade
divaga um impalpável ser.
Um fantasma de si,
a alma penada
que auto-assombra-se.
E de repente o medo
da velha cicatriz abrir-se novamente.
E então o riso tolo
haveria de continuar
rindo ante a imagem.
Insistiria em seu perverso prazer,
em seu banquete insípido?
Qual a graça ante
a infelicidade alheia?
Qual ferro em brasa
não será necessário
para fechar tal chaga?
E estancada a ferida,
novamente a força de vingar-se,
pois que a vingança dos feridos
haverá sempre de ferir.
E assim constituem-se
as grossas correntes escravizantes
que somente serão quebradas
pela renúncia da justiça
com as próprias mãos,
ou no maturar da alma pelo perdão
que não traz o peso da injustiça,
pois se crê numa justiça divina
acima de todas as formas de ser justo.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 10/10/2009
Reeditado em 10/10/2009
Código do texto: T1858690
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