As Dores de Ser


Trevas de mim,
por onde andam minhas luzes?
Lume oculto,
por que não lhe desvendo?
Verdade de mim,
por que não se revela?
Mentira de mim,
por que tem o poder de enganar-me?
Que fazer quando
se sente apenas como migalhas,
os restos de tristeza
que são mais potentes
que as frágeis felicidades?
Dor de mim,
por que insiste tanto
a ponto de afugentar o prazer de ser?
De tudo que eu sempre quis,
por tanto que tanto lutei,
e então descobrir
que todas as batalhas
já estão vencidas ou perdidas.
Migalhas de mim,
como podem ser maiores
que o todo de mim?
Guerra de mim, 
que se apoderou da minha paz,
a verdadeira paz.
A paz que não é dos mortos,
mas aquela que reluz em vida.
Pecado de mim, culpa de mim,
até onde sou perseguido,
até onde persigo a mim mesmo,
sendo meu próprio carrasco?
Demônio de mim,
por que se cala ante
o anjo que nada diz?
Anjo de mim,
por que não vence o demônio
que lhe desafia
em silêncio?
Quietude
da alma, solidão do ego,
ninguém pode socorrer
o de fato sozinho.
Nem mesmo as lágrimas são válidas,
pois apenas choram sem objeto definido.
Prisão de meu ser,
até onde o corpo
há de ser chave de minha liberdade?
Até onde criarei um espírito débil
para salvaguardar minhas desilusões?
Orgulho de mim,
grande tolice de mim mesmo,
totem caído em batalha.
Os inimigos estão a postos,
não se crê em amigos 
no fio da navalha.
Até os enganos
podem guiar um destino?
Até onde se pode ser iludido?
Dos muitos porquês,
por tanto que se faz de nada.

 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 09/10/2009
Reeditado em 03/11/2019
Código do texto: T1857285
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