A festa que há ali fora
Não contempla em mim
Nenhuma festa agora
Aqui de fora tantos copos
Esvaziados de alma
E garrafas repletas de medo
Rostos vazios sem calma
Indisfarçáveis de segredo
A festa que há ali fora
Não mais do que esta daqui de dentro
Tem de findar tão cedo
Em qualquer ponto ser o centro
Em qualquer lugar o degredo
Vem! Que te velam o sono
Meus sonhos mais medonhos
Vem! Que te seguro a mão
Em meus sonhos onde não te ponho
Vem! Que te vigia a solidão
Um porto ermo na aurora
Uma paz que não tenho agora
Mas dorme na imaginação
Todas as noites de outrora
Tenho muito mais passos
Que os degraus da escada
Teu destino tem mais traços
Do que traçaste nas estradas
Minha alma tem mais vôos
Do que as imensidões alastradas
E tua alma muito menos vôos
Do que minhas asas quebradas
Teus olhares muito menos luz
Do que todo o possível olhar
De nossas almas cansadas
Dorme enquanto choras
Não sabes que não há despertar
Do mau sonho em que te demoras
E que me prende a te velar
Quando toda a festa finda
Há manhã caindo sobre mim
Enquanto dormes ainda
Um amanhecer que me fez assim
Que sou louco por tão pouco
Que te dou a madrugada
Que sou pouco por tão louco
Que te faria tanto por nada
Tirar-te-ia de meu sonho
Colocar-te-ia na alvorada
Longe de meu sono mais medonho
De meus sonhos sem rastros
De minhas noites sem histórias
De minha ilusão sem lastro
De meu desejo sem memória
Em festa te esqueço
Em êxtase te quero
Atônito padeço
Ermo te espero
Acorda! Amanheço
Olha o que venero
Uma luz sem apreço
Uma dor com desvelo
Um amor que não conheço
Numa solidão plena de zelo


 
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 09/10/2009
Reeditado em 07/09/2021
Código do texto: T1856160
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