Lealdade e Traição

E por um instante
sente-se tentado aos confrontos.
Como que terrível inimigo, 
zomba-se de sua dúvida.
Vê caminhos
que desenvolvem-se paralelos
para, em determinado momento, 
encontrarem-se.
Desperta a febril vontade
e imaginando ser agredido,
sente pulsar o instinto de conservação,
observa quanta força existe na vingança,
no impulso de destruir e aniquilar.
Enche-se de densas trevas,
até ser visitado por pequena luz
que anestesia o orgulho viril.
Tão difícíl construir,
tão fácil é destruir.
Não recuaria para o adversário,
mas recua por si.
Tem medo do próprio erro,
do tolo engano.
É difícil aceitar
não ser o juiz do próprio destino.
Não é fácil entregar-se
à vontade da consciência,
da tênue luz que a visita.
E como tendo que aceitar a sua dor,
pode acreditar no amor celestial. 
Quer crer na justiça
quando se é justo
e a recebe em retribuição.
Magoa-se, irrita-se, sente-se tolo,
sente que o rancor visita-lhe o peito.
Analisa sua situação,
e algo lhe diz que
é inútil alimentar o ódio.
Quer a vida, não é possível apegar-se. 
Assim, desapega-se da sobrevivência,
mas sente o dano da perda.
Entrega-se à desesperança.
E em seu desencanto adormece
e vê-se com escudo
que cresce ante a espada que agride.
De tão vulnerável, 
teria criado um delírio de defesa,
mas o fato é que sente-se protegido.
E vê que a espada transforma-se em punhal,
e agora é outra espada que o socorre.
E a franqueza encontra-se com a traição.
A espada que defende
quebra o punhal que agride.
E acaba por reconhecer
que a lealdade é força superior.
E esta não clama por vingança,
mas por justiça.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 05/10/2009
Código do texto: T1849225
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