Há momentos em que um abismo
 
 
 
 
 
Nos separa deste e do próximo passo
Tem umas horas em que o silêncio
Reina entre este e outro amanhecer
Tem umas horas que entre o ser e o não ser
Tem que imperar apenas esquecimento
Tem umas horas em que o nada no peito
Tem que ser maior do que o nada lá fora
Ah! Palavras bandidas nos recônditos
Pensamentos que não enxergam o agora
Como os olhos que não vêem a verdade
E não sorvem a luz de uma próxima aurora
Como sofremos! Uma dor e vida misturadas
Tem momentos em que poderia existir
Apenas o nada, e o nada de nada
Ah! Essa alma presa alada...
Essa cegueira injustificável
Essa tristeza de ser o ser que se é
E de não ser o que não se é para ser
Essa tristeza de ser aquele que acorda
Em um outro amanhecer sem morrer
Sem dormir, sem esquecer
Ah! O tempo que não me devora as lembranças
Só a vida, só a vida, consome-a inteira aos poucos
Não me devora esses malditos pensamentos
Essas torpes palavras que me constroem a dor
Ah! O amor que me consome a alma
O amor, o amor, o amor que me tira o sono
E nunca mais me devolve a calma
O amor que me transforma
De forma em forma me deforma
Ah! Somos Hefesto caído do céu
Coxo apaixonado por Afrodite
Humilhado, enganado, traído, iludido
Quem ama herda um reino nas sombras
E aprende a aceitar o silêncio
E ver na escuridão
Quem ama não tem salvação.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 05/10/2009
Reeditado em 07/09/2021
Código do texto: T1848632
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