Verdades e Mentiras
 
Talvez quisesse
iludir-se consigo mesmo.

Talvez tanto quisesse 
que por fim, exausto,

nada mais desejasse,
simplesmente tudo rejeitaria.

Seria como que conformado
com as próprias feridas.

Seria como que confraternizar-se 
com a própria dor,

num estúpido
e utilitário masoquismo,

na busca de uma possibilidade
de diminuir as expectativas.

Num descontrole absoluto
a agredir o autocontrole.

Num fingimento, enfim,
que de tão verdadeiro

acabasse por tornar-se
realidade, iludindo as convicções.

Perdendo-se do tempo
que tanto incomoda,

abandonando a finitude
que tanto nos limita.

Recorrendo não à divindade,
mas à loucura,

a uma insanidade tão bendita
quanto lúcida.

Harmonizando
a razão com os sentimentos

e, por um instante, 
sentindo graça em si,

para logo depois ironizar,
beber amargo.

E no amargo encontrar
o doce que se esconde,

o sentido que se perde
em meio às indefinições.

E então criar a fantasia
onde se perde sozinho.

E na solidão encontrar
respostas, e deixá-las fugir.

Fugir como pássaros
que fogem de sua gaiola,

desconhecendo o risco
de toda a liberdade,

mas ainda assim
desejando-a a todo custo.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 29/09/2009
Código do texto: T1838821
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