Repouso dos lodos

Então certo dia

depois de tanto trabalhar

na construção da palavra.

Eu descansei.

Com todos os ferros

e com todas as máquinas abraçadas.

Encostei ao canto da parede,

o aquário com pouco movimento

e o ventilador soprando fraco no meu telhado.

O dia lento como de muitos trânsitos

e de minhas mãos lenta também tocando

o corpo do copo d’água.

Eu era semelhante a um escombro,

ali no canto, cansado.

Mas cansado de quê? De tantas imagens?

Dos lugares que insistentemente construí.

Não o sei o que me leva.

Nunca tive vocação para guiar rios perdidos.

Apenas eu vou,

no profundo da multidão,

passando entre as rochas que estreitam os becos.

E quando estiver seguro das garras do sereno,

deito oco nessa parede e descanso.

Leva tempo,

mais consigo ser esverdeado ao musgo.

Aldemir Suco
Enviado por Aldemir Suco em 25/09/2009
Código do texto: T1831009
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