Repouso dos lodos
Então certo dia
depois de tanto trabalhar
na construção da palavra.
Eu descansei.
Com todos os ferros
e com todas as máquinas abraçadas.
Encostei ao canto da parede,
o aquário com pouco movimento
e o ventilador soprando fraco no meu telhado.
O dia lento como de muitos trânsitos
e de minhas mãos lenta também tocando
o corpo do copo d’água.
Eu era semelhante a um escombro,
ali no canto, cansado.
Mas cansado de quê? De tantas imagens?
Dos lugares que insistentemente construí.
Não o sei o que me leva.
Nunca tive vocação para guiar rios perdidos.
Apenas eu vou,
no profundo da multidão,
passando entre as rochas que estreitam os becos.
E quando estiver seguro das garras do sereno,
deito oco nessa parede e descanso.
Leva tempo,
mais consigo ser esverdeado ao musgo.