Inimigo interior
Preso ao berço planetário,
já nascido alhures,
submerso em tédio e caos:
terceiras intenções desolam,
isolam ainda mais o amigo
ludibriado,
trapaceado, que abre a boca,
mas com a língua bloqueada
por alguma estranha força invisível
que o trai por dentro,
acomoda-se dentro, sorrateira,
apartando-o do convívio humano
saudável e ético,
natural e urgente,
irrompendo mortal e ridícula
de todos os esfíncteres
da comunicação
e, então,
o pobre amigo espacial carrega nas entranhas
o invasor de seu território
(açucaradamente edênico)
e se oculta nas sombras dos antros
pós-apocalípticos,
assim repugnantemente incompreensível
por si mesmo e pelos outros
– outros tantos extraterrenos enrustidos
mas tranqüilos
a caminho do seu campo de extermínio.