URSO SUBCUTÂNEO...
Como se na pele de um urso eu estivesse,
mas ao contrário, é na minha pele que o urso padece
espremido, apertado, no meu peito mal cabe,
tanto peso, tanto vazio
e ninguém sabe
Caminha silencioso à procura de um abrigo
esse é meu urso,
subcutaneamente escondido
Cansado do vento que sopra desafios no ouvido
dos dias e noites no gelo, perdido
de busca pela caça
na hora que não passa
prefere ainda ficar oculto,
de mim mesmo é só vulto
Dos sentimentos é exaurido
da solidão, agora é amigo
do silêncio, somente ouvido
Sem escolha é amante niilista,
Que sutil simula a conquista,
Para que tenha um alento,
Nem que seja de momento,
Nem que seja por engano
Um só encontro, profano
Quer viver assim e apesar disso,
da minha pele, da minha língua
do meu desejo mais ainda
É dono das minhas entranhas, minhas internas
Segura minha alma que agora hiberna
e faz de mim, meu urso, tua própria caverna.