A Rebelião da Alma
 
Sendo reduzido, sendo diminuído,
transformando-se em ínfima partícula.
Talvez um vulgar grão de areia.
E o que pode um grão de areia no universo?
De tão reduzido, haveria de fato
alguma coisa a ser feita?
Exaurido pela espera, cansado da ansiedade,
amargurado com o destino.
Vê a correção das forças retas que conduzem,
mas irrita-se com a manipulação.
Farto de tudo. Farto de si
e sem o consolo niilista da morte definitiva.
A eternidade está viva, reflete nas emoções,
visita intrometida os pensamentos.
Uma rebelião silenciosa.
O passado insiste em invadir o presente.
O futuro que não vem e a vida passando
como que vento veloz que tudo leva.
Inútil qualquer explosão de fúria,
conclui-se prisioneiro, refém de fato.
E sendo assim questiona-se
qual seria o seu mérito
de fato em viver a vida.
A humanidade encarcerada,
o espírito que não consegue aflorar.
Haveria nisto uma saga bendita,
mesmo que aparentemente fosse maldita?
Inúteis são os gritos
que supõem como testemunhas
ouvidos que fazem-se surdos.
A razão consegue justificativas,
mas como é terrível vivenciar a compreensão.
Não existe um palco para o martírio,
é no silêncio da consciência que sofre.
As lavas do vulcão serenam-se, 
não por mansidão, mas por pura impotência.
O forte talvez não consiga ser fraco,
mas reconhece quem lhe é superior em força.
Mas que fazer com o ímpeto de luta
que insiste em reagir mesmo quando caído?
Talvez apenas a mais pura tolice,
uma heróica atitude,
porém efetivamente tola.
As vozes falam no silêncio,
e também sua voz há de surgir
quando a boca silenciar-se.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 22/08/2009
Reeditado em 22/08/2009
Código do texto: T1768128
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