Confissões à meia-luz

Aquela dor no peito que alguns chamam angústia
invade meus dias, tardes e noites
e meu coração chora de saudades,
mesmo sabendo que nada pode voltar
do jeito que sempre foi um dia.

Continuo sentado neste final de tarde de domingo
ouvindo o som da bola e das crianças lá fora,
o tiquetaquear do teclado que vem do quarto
e a minha solidão em meio a tanta coisa.

Penso em tudo o que tenho de fazer amanhã:
nas reuniões, nos livros, nas festas...
E comparecerei a tudo isso, alheio ao que sinto
e já nem sei mais o nome que posso dar,
pois minto para mim mesmo e para todo mundo.

Quero aparecer supostamente tranqüilo
e sem demonstrar nada mais do que quero
deixar transparecer.
A minha dor é só minha e de mais ninguém.

E a noite vai tomando conta da tarde,
as luzes se acendem e o domingo acaba.
Foi tão curto o tempo que tive para descansar
e, mesmo agora, já respiro o ar de segunda-feira,
preparando-me para o meu dia-a-dia habitual.

E ele vem mesmo, não quer saber o que penso,
nem se ao menos respiro aliviado.
Eu sou o ontem que acabou desfalecido na sarjeta
para que o hoje nasça alucinado.

E assim têm sido os meus dias e noites.
Sem poder ver você, nem ao menos escutar.
Somente pensar no que você faria agora
e qual a solução que daria para estas coisas.

Tento não errar, mas é impossível para mim:
eu sou errado da cabeça aos pés!
Mas tento acertar e consigo, de vez em quando.
O amor não é meu, sempre foi seu.
E quem sabe um dia eu consiga chegar lá...


Poesia publicada no livro Sangue: literatura e outras loucuras,
de Márcio Martelli, Editora In House (2008).